Conferência e apresentação de experiências

Promover a equidade e a autonomia através do diálogo

Explorar abordagens dialógicas para valorizar a diversidade cultural em qualquer espaço deliberativo destinado à aprendizagem, construindo ao mesmo tempo um raciocínio científico neutro mas empenhado.

Descrição da oradora

Coralie Delhaye é doutorada em Ciências da Educação pela ULB e concluiu um pós-doutoramento na Universidade de Stanford, na Califórnia. Trabalhou também como professora e conselheira pedagógica no ensino social e universitário belga.

Atualmente, é inspetora do ensino não obrigatório no Ministério da Educação Pública.


Favoriser l’équité et l’autonomie par le dialogue

O diálogo pode promover uma aprendizagem profunda e uma participação equitativa, permitindo aos indivíduos coconstruir ideias através do raciocínio e de provas, desafiar perspetivas e desenvolver a sua autonomia dentro dos sistemas.

Na educação, o conceito de Robin Alexander de ensino dialógico dá ênfase a discussões estruturadas e intencionais em que os alunos se envolvem ativamente com ideias em vez de receberem informação. A aprendizagem não é apenas um processo cognitivo interno, mas um fenómeno socialmente mediado, como sugerido por Lev Vygotsky, em que o significado emerge através da interação com os outros. Assim, o diálogo apoia o desenvolvimento cognitivo e social, garantindo que todos os alunos, independentemente da sua origem, tenham voz na construção de ideias partilhadas sobre o mundo.

A equidade na educação significa criar espaços onde os alunos possam participar de uma forma significativa. Os métodos baseados na recitação ou em palestras limitam as oportunidades de autonomia dos alunos, enquanto o ensino dialógico os incentiva a contribuir, questionar e colaborar. Como refere Gert Biesta, a educação não deve ser apenas instrumental, mas aberta, permitindo que os alunos cultivem a sua identidade e responsabilidade em vez de serem moldados para papéis pré-determinados. Ao promover a autonomia, a educação prepara os indivíduos para se tornarem membros autónomos e empenhados da sociedade.

Para além da educação, estes princípios oferecem ideias valiosas para os governos municipais que procuram promover a participação genuína dos jovens e dos cidadãos sub-representados. O envolvimento do público tem de ir além da simples consulta para uma interação significativa. Cidades como Bolonha, São Paulo e Montevideu criaram iniciativas que incentivam a governação participativa, refletindo os princípios do diálogo.

Por exemplo, os conselhos de juventude devem ser plataformas para debates estruturados e deliberativos em que diversas perspetivas influenciem as políticas. Os fóruns públicos devem incentivar o diálogo equitativo em vez de permitir que algumas vozes dominem outras.

O diálogo autêntico requer condições e competências complexas. Para o facilitar eficazmente, os educadores e facilitadores devem ser formados na criação de ambientes de apoio, escuta ativa, interação deliberativa e facilitação inclusiva. A fim de promover a autonomia e não perpetuar as desigualdades, os moderadores dos debates devem criar ativamente condições que permitam que as vozes marginalizadas contribuam de forma significativa.

Por conseguinte, é essencial formar professores e facilitadores em práticas dialógicas, bem como criar espaços para o diálogo. Esta formação deve ser enraizada na prática e integrada em contextos autênticos. A investigação sobre esta aprendizagem sublinha a importância de experiências imersivas e concretas, em que os educadores e os mediadores podem observar práticas modelo, analisá-las e pô-las em prática.

Ao integrar um diálogo genuíno na educação e na vida cívica, as sociedades podem desenvolver indivíduos capazes de contribuir de forma ativa e justa. Quer seja na sala de aula ou nos esquemas de participação cívica criados pelas cidades, a promoção da autonomia através do diálogo exige uma conceção intencional, uma facilitação competente e um compromisso com a inclusão, garantindo que todos têm uma voz na construção de uma sociedade mais justa e democrática.


Apresentação das 3 cidades que tomam a palavra:

Lattes

A cidade de Lattes juntou-se à rede das Cidades Educadoras em 2022, impulsionada pela ambição de desenvolver práticas inovadoras adaptadas às crianças e aos jovens. Situada a sul de Montpellier, esta cidade de raízes antigas está ativamente empenhada na participação e emancipação dos jovens.

Na AGM deste ano, Lattes apresentará o seu projeto Quartier Jeune  Bairro Jovem, um programa concebido com a participação dos próprios jovens, destinado a reforçar a sua capacidade de ação na sua comunidade.

Bolonha

Bolonha tem uma longa tradição de participação na rede internacional de Cidades Educadoras. Cidade pioneira neste campo, desempenhou um papel fundamental na história da Associação, que se constituiu oficialmente como organização em Bolonha em 1994. Atualmente, continua o seu compromisso oferecendo-se para coordenar a rede italiana de Cidades Educadoras, reforçando assim a colaboração entre municípios para promover a educação e a formação.

Na Assembleia Geral deste ano, Bolonha apresentará o seu projeto inspirado nos princípios da igualdade e da igualdade de oportunidades. De facto, o município aprovou a inclusão do princípio ius soli nos seus estatutos, permitindo a concessão da cidadania honorária a menores nascidos em Itália ou que tenham completado pelo menos um ciclo escolar em território italiano. Com estas iniciativas, Bolonha afirma o seu compromisso com o direito de cidadania dos jovens nascidos ou criados na cidade, promovendo assim a sua inclusão e plena participação na vida social e cívica.

Rosario

Rosário faz parte da AICE desde 1996 e é a sede da Delegação para a América Latina da Associação. O município promove a participação cidadã desde a infância, por meio de diferentes programas que incentivam a voz e o empoderamento de crianças, adolescentes e comunidades, permitindo que contribuam ativamente para a melhoria do seu entorno.

Os Conselhos de Crianças, voltados para meninos e meninas de 8 a 11 anos, permitem que imaginem e proponham melhorias para a cidade por meio do jogo e do debate, além de elaborar projetos que posteriormente apresentam às autoridades, garantindo que suas vozes sejam ouvidas na implementação de políticas públicas.

O programa de Animadores Juvenis fortalece a cidadania entre jovens de 13 a 20 anos por meio da reflexão, da inclusão e da formação em clubes e centros esportivos municipais situados em contextos vulneráveis, promovendo o voluntariado e a autogestão.

O Laboratório de Acupuntura Cidadã impulsiona a transformação dos bairros através da participação dos moradores, por meio de intervenções estratégicas nos Distritos da cidade.

Essas iniciativas não seriam possíveis sem um forte compromisso com políticas voltadas para a formação da cidadania no uso da palavra, no respeito e na valorização do espaço público.